Foi com algumas expectativas que fui assistir no passado dia 17 de Junho à estreia da CINCO - Ópera do Centenário da República. Confesso o meu enorme desapontamento. Tudo indicava que fosse um grande espectáculo. Afinal, o projecto tinha como autor Carlos Clara Gomes, responsável pelo libreto, música e encenação e produção da Companhia DeMente, que tem como princípio a participação de elencos voluntários locais mesclados com profissionais e o “esbater de fronteiras entre palcos e plateias, conferindo ao Público o estatuto de Ser Activo, Crítico e Participante.”
Uma desilusão. A Ópera, a apresentar em 2 partes e em 2 dias seguidos no Mercado 2 de Maio, começou logo da pior maneira: adiada por motivos técnicos, creio que relacionados com a produção do DVD a projectar. Assim, optou-se por um espectáculo de enfiada no dia seguinte, com mais de 3 horas de duração.
O espaço não era o melhor. O Mercado 2 de Maio não apresenta condições mínimas e era confrangedor ver os artistas a mudarem os figurinos em tendas. O som imperceptível apesar de a espaços se notar alguma qualidade no texto. Os microfones pareciam desligados ou mal colocados. A tela, onde se viam passar as imagens que ilustrariam os acontecimentos, a esvoaçar constantemente por não estar presa. No palco entravam actores quando não deviam. O seu contrário também: Playbacks sem ninguém a interpretar. As luzes muitas vezes falhavam o alvo. Confrangedor. Em vez de uma Ópera, saí com a ideia de ter assistido a uma tragédia.
Em conversas posteriores com alguns intervenientes deu para perceber o porquê de tantas falhas grosseiras. Afinal, o primeiro ensaio geral foi no próprio dia do espectáculo, durante o próprio espectáculo. Em sintonia com o costume também secular e tipicamente português de deixar tudo para o último minuto.
Mas foram os próprios a reconhecer a pobreza do espectáculo apresentado. E ficou a promessa de redenção. De Guimarães chegam notícias de que correu bastante melhor. Ou não. O que retenho sobretudo é a promessa de redenção com o agendamento para Viseu de um novo espectáculo. O Público merece. E os intervenientes também. E isso é de enaltecer. O reconhecimento do erro, e a tentativa de correcção. Afinal aprende-se a caminhar, andando, com muitos trambolhões à mistura. Eu estarei lá para mais uma oportunidade.
A República definha, bem sabemos, mas não merece tão fraca figura. Ópera, Tragédia e Redenção.
Tal e qual a história da própria, com a sua agenda modernizadora e secular até ao 28 de Maio, dia obscuro que apagou a chama do país durante uma longa noite de 48 anos, décadas após as quais o sol do havia de nascer, mesmo que por um dia, para todos nós. A 25 de Abril.
Tal e qual o próprio Mercado 2 de Maio que serviu como pobre palco. Das expectativas goradas do projecto de Siza Vieira à realidade da total inoperância e falta de dinâmica do mesmo, aos clamores por uma necessária remodelação, nem que seja pelo regresso ao passado, e que até já partem da própria Câmara Municipal de Viseu.
Humildade de quem sabe que pode e deve fazer melhor, são as lições que se retiram. E toda a solidariedade para quem se propõe a corrigir o caminho quando este se afigura mau ou errado.
4 de julho de 2010 às 12:23
a esquerda em colapso
5 de julho de 2010 às 14:35
Consegui aguentar 30 minutos, não mais. Não queria crer que fosse aquela a maneira da câmara comemorar a República.
Afinal, a câmara não tinha nada que ver com aquilo (só patrocinou não?)e a história foi outra e também estou disposto a dar mais uma chance à rapaziada.
Errar é humano. Reconhecer é humanismo.
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