A China constitui hoje um curioso case-study político: consegue conciliar o pior do comunismo com o pior do capitalismo selvagem. E até acertaram no slogan "um país dois sistemas". Serve para os casos de Hong Kong e Macau, serve para o Comunismo Neo-Liberal.
Em 2006 a Google entrou no esquema. Não no esquema habitual de colocar mão-de-obra quase escrava a produzir bens posteriormente vendidos a peso de ouro no ocidente. Mas até aqui inovaram. A empresa que revolucionou a optimização dos resultados com o seu motor de busca ao ponto de em poucos anos surgir nos dicionários o verbo "to Google" concebeu para a China um sistema de pesquisa censurado em que palavras como democracia, Tibete, Tianamen ou Dalai Lama pura e simplesmente não existem e onde os sites de empresas malvadas como a Disney ou a BBC News estão inacessíveis. Ou seja, aniquilou a principal vantagem do seu produto, a eficácia da busca, em benefício daquilo que imaginou como um dos mercados futuros com mais exponencial de crescimento.O slogan "Don't be Evil" , esse ficou pela Califórnia.
Mas eis que a Google acorda para a realidade sombria que está a ajudar a construir e afirma peremptória em comunicado:
"Já não estamos dispostos a continuar a censurar os nossos resultados (das pesquisas)"
É evidente que não foi uma decisão motivada apenas pelo peso da consciência. A Google não percebeu que quando se dá um abraço a uma ditadura, há sempre o risco de se começar a sufocar de tão apertado que é.
Foi o que aconteceu. Proveniente da China, a Google detectou “um ataque sofisticado e direccionado” de piratas informáticos às contas de email de activistas dos direitos humanos chineses. Apesar de não ter confirmado a tese de espionagem por parte do governo chinês, a Google decidiu acabar com a censura nos seus motores de busca. Quem é que de resto estaria interessado em violar correspondência dos activistas que não a própria ditadura, que conta já com dezenas de presos políticos por delitos de opinião na internet?
Estes ataques “combinados com outras tentativas, nos últimos anos, para limitar a liberdade de expressão na Internet, fizeram-nos concluir que deveríamos rever a exequibilidade das nossas operações na China” acrescenta a Google. Na China ou em qualquer outro lugar do mundo onde os direitos humanos não estejam minimamente acautelados. Para a história, fica a lição.
imagem:http://www.informationisbeautiful.net/
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